1.8.07

Eu disse, não disse?!?!?!

Acabado o PAN de fato a maquiagem do Rio de Janeiro borrou...
Infelizmente a pretensa paz não foi milagre do Cristo Redentor, foi ação orquestrada - pelo poder público e pela imprensa, salvo algum grande engano. A maquiagem está na conta deles e só lhes cabe agora explicar como foi possível.
Certo é que nesta quarta-feira que finda já são 10 o número de mortos em confrontos na favela da Carobinha, em Campo Grande, segundo noticia a Agência Estado.
Mais uma chacina para uma cidade acostumada com elas.
Bom, depois de um PAN brilhante, um Rio opaco - como sempre o foi...
Me perdoe meu mestre Gilberto Gil, mas o Rio de Janerio continua um lixo!!!!
Depois não digam que eu não disse, porque eu disse!!!

3 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro Allysson, o que está acontecendo?
Dizer que o Rio de Janeiro, a cidade mais visitada pelos turistas que vêm ao Brasil e consensualmente considerada uma das mais belas do mundo, centro histórico-cultural basilar de nossa nacionalidade, é e sempre foi opaca e um lixo significa ter perdido a capacidade de apreciação objetiva das coisas! Nem mesmo a mais tacanha mentalidade provinciana ou os mais mesquinhos interesses da indústria turística podem explicar tamanha descompensação vocabular. Por caminhos diversos você se rebaixa ao nível do alto executivo da Philips e lider do movimento "Cansei", que se permitiu afirmar que o Piauí poderia ser excluído do mapa do Brasil sem qualquer prejuízo para o país. O caminho não é por aí. Democratas, republicanos e socialistas honestos ao longo da história jamais se notabilizaram pelo destempero verbal, relegando o uso de fórmulas xenófobas e chovinistas aos fascistas e assemelhados.
O problema da violência urbana no Rio de janeiro, do qual a população caríoca é a principal vítima, decorre da combinação da vigência de um modelo de desenvolvimento econômico e social excludente e reprodutor da desigualdade e o descaso do poder público que sempre colocou os interesses do capital acima dos interesses da cidadania. Mas é também o resultado de distorções no pacto federativo, que explicam o fato do Estado do Rio de Janeiro ter ocupado o segundo lugar na arrecadação de impostos federais e o penúltimo em repasse de recursos nos últimos 25 anos! Tem a ver também com o fato de que, devido a influência que as forças progressistas desempenharam historicamente na vida politica e cultural da cidade não se adotou ali o modelo de segregação sócio-espacial tão frequente em outros lugares, inclusive Salvador (vide reforma do Pelourinho), no qual a pobreza foi deslocada para os confins da malha urbana, garantindo-se o conforto e a intocabilidade (aparente e por um certo tempo) das classes abastadas. A presença das favelas no interior dos bairros ricos tem a ver com isto e é aí onde reside um dos pontos fulcrais da questão. A grande imprensa (encabeçada pela TV Globo), e a direita política sempre fizeram da denúncia da criminalidade urbana a base discursiva de suas propostas de restabelecimento da ordem, através da ampliação do aparato repressivo, em detrimento dos direitos coletivos e individuais das classes subalternas. Em sua versão reciclada e modernosa, tal prédica se volta para a modernização, reaparelhamento e requalificação da polícia visando ampliar sua eficácia repressiva, de modo a garantir as condições para o perfeito desenvolvimento da economia de serviços e da indústria (sic) do turismo, das quais são porta-vozes. Enquadra-se nesta estratégia a negação obstinada das vinculações entre a miséria urbana e a criminalidade, possibilitando que o problema da exclusão social (eufemismo pelo qual se oculta a inclusão das popilações mencionadas em um sistema de exploração) seja relegado à políticas sociais minimalistas de sustentação pública ou privada tipo Criança Esperança, Bolsa Familia, ou outras ações filantrópicas do chamado terceiro setor.
Por outro lado, não se pode negar que, conquanto em seus aspectos estruturantes, o problema da violência urbana seja um problema fundamentalmente carioca, alguns fatores que o condicionam são nacionais. Para além do constatação óbvia de que a pobreza, a discriminação social e racial e a privação da cidadania das classes subalternas manifestadas ali possuem dimensões nacionais, não é ocioso lembrar que o Rio de Janeiro não é um centro produtor de drogas (maconha e cocaína não foram produzidas historicamente ali, apesar da recente descoberta de um laboratório de refino de coca na Rocinha) e armas. Sua entrada e distribuição no estado são também o resultado da falência das forças de segurança do estado brasileiro (Polícia Federal e forças armadas) em impedir a entrada e a redistribuição clandestina de armas e de drogas neste país.
Me parece extremamente grave fechar os olhos para o fato de que, devido a degradação de nossos condições econômicas e sociais a segurança publica (ou, inversamente, o problema da criminalidade) não apresenta situação satisfatória em nenhum lugar do Brasil! Problema antes confinado às grandes metrópoles nacionais Rio e SP, atualmente se apresenta com intensidade insuportável em todas as partes do país, mesmo nas médias e pequenas cidades. A propósito e sem querer inverter o chovinismo, acabo de regressar de Maceió, a segunda cidade mais violenta do Brasil depois de Recife e pude constatá-lo in loco. Vitória (ES) é a terceira, sendo São Paulo a quarta e o Rio "apenas" a quinta mais violenta em número de assassinatos por 100. 000 habitantes. A realidade é que a grande maioria das cidades brasileiras são lugares muito pouco habitáveis, segundo exigências humanas minimamente elevadas.
Não vamos esconder o sol com a peneira, Allysson Mustafa, Salvador é a cidade brasileira que registra o maior ritmo de crescimento da violência urbana, tendo evoluído da condição de 20a cidade mais violenta para a 7a, em apenas 5 anos! Tal violência não pode ser desvinculada do fato de ter esta cidade a 2a pior distribuição da riqueza do Brasil, entre as capitais e um nível de qualidade de vida dos mais baixos do país do ponto de vista do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ficando à frente apenas da capital do Piauí (Terezina), que não quero ver eliminada do mapa do Brasil em nenhuma hipótese. Porém, uma das diferenças entre Salvador e o Rio é que, devido a um acordo solidamente estabelecido entre as classes dirigentes empresariais, a elite política e a imprensa soteropolitana, encobre-se a miséria e a violência urbana, em prol do crescimento da indústria (sic) do carnaval e do turismo soteropolitano.
Enfim, os problemas do Rio de Janeiro podem e devem ser apontados, mas não nos termos adotados por você no blog, os quais não refletem a sua condição de homem letrado e educador, nem a sua condição de aspirante progressista e bem intencionado ao exercício da representação política.
Muito mais poderia ser dito, porém o tempo não me permite e o local não é o mais apropriado. Desejo-lhe muito sucesso nesta sua promissora trajetória e apenas na condição de interlocutor e eventual eleitor lhe recomendo ponderação e serenidade, para que a sua pregação em prol da democracia e da cidadania não acabe capturada por alguma das múltiplas arapucas que o modernismo reacionário carlista, aparentemente em retirada, deixou montadas no mundo da política e da cultura baiana.
Um forte abraço,
Muniz Ferreira

Blogue com Allysson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Blogue com Allysson disse...

Eloquente a resposta do eminente professor Muniz Ferreira. Completamente compreensível, em todos so aspectos, a sua réplica - sobretudo pelo fato de ser ele carioca. De fato, as questões relativas à (in)Segurança Pública, estão muito além das gestões municipais e/ou estaduais. No caso do Rio de Janeiro, cabe implicar o município já que lá existe uma Guarda Municipal. Reside, por certo, na esfera Federal - nas incopetências, má-vontades e inabilidades federais.
Sábias também as palavras do Professor quanto ao avanço dos números da violência em todo o Brasil, inclusive em Salvador, que registra pelo menos 10 homicídios em sua Região Metropolitana a cada fim de semana. Estão também aqui as coisas muito ruins, e, confesso, a nova administração petista ainda não mostrou a que veio também nesta seara.
Quanto ao destempero na palavra, certamente não foi a intenção desfazer do povo do Rio de Janeiro, padecente das mazelas de administrações e mais administrações ineficientes ao longo dos anos posteriores à transferência da capital federal para o Planalto Central. Entretanto, a sanha exploratória da imagem do Rio de Janeiro como cidade-símbolo do Brasil já não condiz com sua condição vexatória (aliás, neste sentido, o Brasil é símbolo de si mesmo, não carecendo de quem lhe faça as honras) - e neste caso, não importa se mais ou menos problemática que outras tantas metrópoles. O Rio de Janeiro, se se quer símbolo do Brasil e da brasilidade deve buscar, na reunião dos seus esforços sociais e políticos (e que se cobre especialmente dos políticos posturas mais de acordo com os interesses públicos) ressignificar, quiçá reinventar sua imagem, porque não é esta imagem que se nos oferece no momento a mais bela daquela igualmente bela cidade.
Ademais, conquanto o uso do termo possa de fato soar ofensivo, a idéia última era exatamente provocar - e nisso certamente foi útil.
No entanto, como mandam as regras de cordialidade e educação, e sobretudo na disposição hierárquica a que, embora já fora da Academia, ainda me imponho (porque meus professores serão sempre meus professores, e a eles faço as devidas reverências), peço humildes desculpas pelo dissabor causado pelo uso da palavra.
E democraticamente abre-se o dálogo entre as partes...